Conheça Faustina e Rebeca, cabras nordestinas que quebraram recordes mundiais


Com mais de 760 mil caprinos, a Paraíba se destaca no ranking nacional, ocupando o quinto lugar entre os 26 Estados, conforme a Secretaria do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca (Sedap). Além disso, lidera a produção de leite ao coletar 5,6 milhões de litros anualmente. Leia também Em queijaria de Brasília, as cabras são as 'patroas' Dóceis e curiosas: saiba como criar minicabra Quanto custa produzir queijo de cabra? Saiba tamanho da propriedade e custos Entre tantos animais espalhados, principalmente, por Monteiro, São João do Tigre, Sumé, Serra Branca e São Sebastião do Umbuzeiro, cidades com os maiores rebanhos contabilizados no último Censo Agropecuário, duas cabras mostram o potencial genético desenvolvido pela caprinocultura brasileira: Faustina e Rebeca. A dupla da raça saanen, originária da Suíça, garantiu recordes mundiais na produção de leite de cabra em categorias diferentes em exposições recentes chanceladas pela Associação Brasileira dos Criadores de Caprinos (ABCC). Faustina, de 16 meses, pertence ao Capril CPnet e venceu na “categoria cabrita” ao produzir 29,950 quilos de leite nas quatro ordenhas da Expo Monteiro, em setembro deste ano. No mês anterior, a cabra Rebeca, do Capril Armorial, de quatro anos, foi campeã na “categoria adulta” da Expoprata, com 32.715 quilos. Júnior Nóbrega, presidente da Associação Paraibana dos Criadores de Caprinos e Ovinos (APACOOPB), explica à Globo Rural que o objetivo da entidade, agora, é buscar a certificação no Guinness Book. “Nós vamos fazer todo o processo para o registro no livro dos recordes. Vamos reunir a documentação e dar entrada no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para que a homologação seja feita. Vai demorar um tempo. Acredito que entre 60 a 90 dias”. Nóbrega completa que a produção leiteira de Faustina e Rebeca é ainda mais impressionante porque, de uma só vez, quebrou o recorde de outra paraibana, Verão, do Capril Vitrine, que produziu 27.380 quilos na Expo Monteiro 2023. Os criadores até tentaram incluí-la no Guinness, mas pararam o processo de reconhecimento quando ela morreu, em 2023. “Isso deixa a Paraíba em destaque quando se fala em caprino leiteiro. É uma coisa muito boa. Mostra o trabalho dos nossos criadores, tanto do Ailson (Rebeca) como do Irandy (Faustina)”. Atualmente, o reconhecimento mundial na produção diária de leite pertence à cabra americana Priscilla, da raça LaMancha, da Virgínia Ocidental. Em julho de 1990, ela produziu 13,47 quilos, de acordo com o Guinness. Initial plugin text Faustina é orgulho no capril A cabrita de Monteiro (PB) é resultado do trabalho de melhoramento genético desenvolvido por Irandy Roberto Cavalcante dos Santos, do Capril CPnet, desde 2019, e chamou a atenção assim que pariu os primeiros filhotes, há cerca de 90 dias. Segundo o caprinocultor, que também possui cabras da raça alpino americano, ela já demonstrava potencial diante dos demais animais e foi afastada do restante do rebanho para receber cuidados especiais, como alimentação reforçada e suplementos e vitaminas, visando a produção de leite para a participação em exposições. “Eu nunca tinha visto nada igual. A Faustina foi uma coisa muito diferente. Ela tem um futuro enorme pela frente porque é uma cabrita que ainda vai passar pela fase jovem para depois chegar na fase adulta. Vejo ela ganhando muitos títulos. É uma cabrita de muita saúde, não tem defeito em úbere, é saudável. Sei que vai brilhar muito”, diz. Cabra faustina Arquivo Pessoal Batizada em homenagem a Júnior Faustino, amigo de Irandy e também criador de caprinos no Sertão do Cariri, a cabrita foi vendida após a Expo Monteiro por R$ 50 mil e agora pertence ao Capril JCR, de Pindamonhangaba (SP). O valor, o maior que se tem conhecimento no Brasil em comercialização, é muito mais simbólico por tudo o que o animal representa na trajetória do capril. “A história de Faustina me orgulha muito. Julianelli Cafalone, o novo dono, quis adquirir a Faustina, mas, até então, eu não queria vender. A gente foi conversando, e eu disse que se me pagasse R$ 50 mil, eu venderia. Ele veio acompanhar as ordenhas e comprou. A venda, porém, não foi só pela questão do dinheiro, mas pelo prazer e reconhecimento. Um dia, eu ia buscar animais em outros Estados e agora posso fornecer para outros criadores, como esse profissional que conhece muito sobre cabras e reconheceu na Faustina a qualidade que ela tem”, diz. Com a venda, Irandy, que começou a criação com 12 animais e atualmente possui mais de 200, já planeja as próximas gestações no rebanho para encontrar novas cabras para substituir Faustina nas exposições de 2026. Rebeca, a número 1 do mundo Há quatro anos, quando acompanhava o nascimento da cabra, Ailson de Sousa Barros, do Capril Armorial, em Prata (PB), resolveu escolher um nome bíblico para batizá-la porque, segundo ele, sentiu que o animal seria muito especial. A intuição do paraibano, definitivamente, não falhou. Rebeca Arquivo Pessoal Durante a 11ª Exposição de Caprinos e Ovinos de Prata, a Expoprata, a cabra saanen que está na terceira lactação após parir três cabritos no mês de julho tornou-se a nova recordista mundial com a marca de 32.725 quilos em quatro ordenhas – 7.650 quilos (1ª), 7.310 quilos (2ª), 8.640 quilos (3ª) e 9.125 quilos (4ª). O recorde não apenas encheu Ailson de orgulho, como também mudou o foco de seus negócios. Isso porque, ele decidiu investir ainda mais no trabalho de melhoramento genético na propriedade rural. “Eu focava mais no leite, mas depois que ela ganhou, estou focando mais na genética, porque a procura por cabritos está enorme”. E, assim como aconteceu com Irandy dos Santos, do Capril CPnet, Ailson também já recebeu propostas pela cabra recordista. “Chegaram a oferecer R$ 80 mil, mas eu recusei. Rebeca está em fase de secagem para coleta de embriões, vejo um mercado mais amplo e mais valorizado. Hoje, tenho o maior potencial leiteiro do mundo, com valor estimado em R$ 120 mil. Além disso, a sua genética é rica, tenho uma filha dela, a Eva Armorial, do segundo parto. Essa já é destaque como cabrita e, em breve, estará participando das exposições e competições leiteiras”, finaliza.