Inteligência artificial já é vantagem competitiva no campo
 
                                
Investir em inovação, em particular em inteligência artificial, nos próximos 12 meses poderá ser uma vantagem competitiva no agro por até cinco anos, avalia Oscar Burd, professor do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro) e fundador da Success, empresa especializada em tecnologia da informação para a cadeia do agro. Burd participou do painel “O futuro é agora: tecnologias que estão transformando o campo”, que integrou a programação do evento Agro Horizonte, promovido nesta quarta-feira (29/10) pela Globo Rural, em Brasília. Leia também: Brasil tem a ganhar se atrelar sustentabilidade à ciência Conversa entre Lula e Trump é necessária, diz Ted McKinney “A adoção de IA e de novas tecnologias será uma obrigação para quem quiser sobreviver no agro. Enquanto o rádio e a televisão levaram décadas para atingir 100 milhões de usuários, a internet levou sete anos e o ChatGPT, apenas três meses”, raciocinou. Segundo ele, o ritmo de disseminação das inovações demonstra a urgência da transformação digital. “Não há mais tempo a perder. O futuro já começou e exige ação imediata e garantida. Quem investir em IA nos próximos 12 meses terá de três a cinco anos de vantagem competitiva”, disse. O professor apresentou dados que ilustram o ganho de eficiência que se consegue com as tecnologias digitais. A agricultura de precisão com inteligência artificial já leva a aumentos de produtividade de 25%, tratores autônomos representam ganhos de 22%, e sistemas integrados com sensores otimizam a produção em até 20%. Outras inovações, como variedades desenvolvidas por biotecnologia e manejo de pragas com IA, aumentam os resultados em 16% e 15%, respectivamente. “O segredo está em definir metas claras e mensuráveis, envolver a alta liderança e trabalhar em ciclos curtos de alguns meses, avaliando resultados antes de decidir os próximos passos”, disse. Bruno Pavão, diretor de robótica da Solinftec, apresentou resultados práticos da robótica agrícola e da aplicação de IA no campo. Segundo ele, a combinação dessas tecnologias está transformando o manejo das lavouras, com impacto direto sobre custos, sustentabilidade e produtividade. “A robótica agrícola é o aperfeiçoamento de duas técnicas: automação e inteligência de decisão. Nossos sistemas utilizam câmeras e IA para diferenciar o que é planta daninha do que é cultura. Isso permite aplicar herbicidas apenas onde é necessário”, explicou. O resultado é expressivo: até 90% de redução no uso de moléculas químicas e preservação da microbiologia do solo — consegue-se preservar cerca de 40% a mais do que nas áreas pulverizadas anteriormente. Nossos sistemas utilizam câmeras e IA para diferenciar o que é planta daninha do que é cultura. Isso permite aplicar herbicidas apenas onde é necessário", afirma Bruno Pavão, da Solinftec. Para ele, esses benefícios fisiológicos se convertem em produtividade. “Ao preservar a vida no solo, a planta responde melhor. Isso se traduz em mais vigor, melhor enchimento de grãos e mais rentabilidade”, afirmou. Pavão destacou que o Brasil é um dos únicos países do mundo com mais de 150 robôs em operação em lavouras de soja. Além disso, o país lidera o primeiro protocolo de inteligência artificial aplicado ao algodão, que já resultou em um aumento de 5,3% na produtividade e na qualidade da fibra. Na pecuária, a Solinftec registrou avanços significativos em pastagens, com ganhos de 46% em altura e de 16% em matéria seca a partir do manejo inteligente de herbicidas. Avanços entre uma geração e outra O fundador da Inttegra, Antonio Chaker, abordou o papel da tecnologia na pecuária e as transformações entre uma geração e outra, que influenciam o uso de inovação no campo. “Não se trata de um apagão de mão de obra, mas de entendimento. A nova geração tem outra relação com o trabalho rural, e precisamos usar inteligência artificial, aplicativos e robótica como ferramentas de inclusão”, opinou. Chaker destacou que, com a chegada das novas gerações e o avanço tecnológico, o manejo da pecuária exige adaptações a um novo padrão climático e a processos mais integrados. “Hoje, 30% das fazendas ainda emitem carbono, 40% zeram as emissões e 30% são aspiradores de carbono. A tecnologia é a ponte que permitirá elevar a eficiência ambiental e produtiva”, disse Chaker. A experiência prática reforça a tese: o uso de pastoreio digital aumentou em 32% a produtividade dos pastos, além de melhorar o controle e o bem-estar animal. “É mais fácil treinar um novo funcionário para pilotar um quadriciclo do que um cavalo. As ferramentas digitais reduzem barreiras e ampliam o acesso a boas práticas de manejo”, ressaltou. O consenso entre os especialistas é de que o agronegócio brasileiro vive uma janela curta, mas decisiva, para consolidar sua liderança tecnológica. A convergência entre IA, robótica, biotecnologia e análise de dados está redefinindo a eficiência operacional e ambiental do setor. “Assim como o verdadeiro craque no futebol não corre para onde a bola está, mas para onde ela vai estar, o produtor precisa antecipar o futuro”, resumiu Chaker. O mesmo vale para produtores rurais, empresas e cooperativas que desejam se manter competitivas.
 


 
             
             
             
             
             
            