O salto dos arrozais do Grupo Corbetta, ‘invisível na internet’, mas sem dívidas

O salto dos arrozais do Grupo Corbetta, ‘invisível na internet’, mas sem dívidas

Em um momento em que a maioria dos pequenos produtores de arroz do Rio Grande do Sul tem enfrentado dificuldade para crescer, lidar com dívidas ou conviver com margens estreitas, o Grupo Corbetta encontrou um caminho diferente: ampliar suas operações sem recorrer a financiamentos. Leia também Por que o Brasil deve reduzir o plantio de arroz? Brasil perde peso para indústria de arroz da Argentina O grupo familiar tem operado 20 mil hectares de arroz, em rotação com a soja, por meio de parcerias estratégicas. A companhia idealizou esse modelo, raro, há 40 anos — e ele seguirá no centro da estratégia após um nome da nova geração dos Corbetta assumir o comando da empresa, o que está prestes a ocorrer. No arranjo, a empresa mantém o controle da terra e da água, enquanto produtores parceiros cuidam do maquinário e da operação. O modelo garante um percentual da produção ao Corbetta — de 28% no caso do arroz e de 15% na soja. Com isso, projeta a companhia, o faturamento deverá ser de R$ 85 milhões em 2025, montante que, por causa do recuo dos preços do arroz, será 15% inferior aos R$ 100 milhões do ano passado. Somados arroz, soja e uma atividade pecuária de pequena escala, toda a produção nas terras que o grupo administra é de cerca de R$ 600 milhões. “Hoje, somos praticamente uma companhia imobiliária. Tínhamos a produção e as terras no passado, mas, pelo tamanho, não conseguíamos garantir uma boa produtividade”, afirma o diretor financeiro Rodrigo Corbetta, que assumirá a direção do grupo em 2026. Ele divide a sociedade com o pai, Eduardo, e o tio, Julio Carlos Corbetta Filho. Saiba-mais taboola A produtividade média nas terras que os Corbetta controlam é hoje de 210 sacas de 50 quilos por hectare. As áreas são divididas em partes iguais — são 10 mil hectares de arroz e 10 mil de soja. Com as parcerias, a produção de arroz é de 2 milhões de sacas de 50 quilos. Desse volume, 400 mil sacas ficam diretamente com a família. Os produtores parceiros trabalham em terras que têm entre 500 e mil hectares cada e faturam, em média, R$ 6 milhões. A empresa vende a produção a grandes beneficiadoras do Brasil, à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por meio de leilões, e também ao mercado externo, principalmente para o México. Na estrutura da comercialização da soja, os grãos vão para o porto de Rio Grande e são entregues à Bianchini. A trading, também do Rio Grande do Sul, armazena e faz a liquidação da oleaginosa quando a família decide vender a produção. Com raízes de longa data no Estado, a família Corbetta chegou a ser proprietária de uma das terras que deu origem ao município de Esteio. Segundo Rodrigo, a família nunca quis ter um engenho próprio, mas teve iniciativas pioneiras também em outras frentes. O bisavô do executivo criou, por exemplo, a primeira produção de celulose a partir de pinus no Brasil, na década de 1940, no município de Vacaria. Duas décadas depois, ele vendeu a unidade e usou o dinheiro do negócio para dar início à empreitada nas fazendas. Uma delas, de tão grande, foi desapropriada nos anos 1970 e virou o município de Esteio, onde ocorre a Expointer, uma das maiores feiras agropecuárias da América Latina. “A casa branca na sede da feira era da nossa família”, conta o executivo, orgulhoso. Capitalizado, o grupo não depende de crédito para ampliar a produção e tampouco trabalha alavancado. “O setor pode entrar em período de estresse e quebradeira, mas nós não temos risco direto, embora alguns parceiros estejam alavancados”, diz. O executivo acredita que, na safra 2025/26, a área de cultivo não cairá, apesar do declínio dos preços, o que pode acentuar a pressão sobre as cotações. Apesar disso, o executivo enxerga a possibilidade de novas aquisições e avalia que investidores da Faria Lima poderiam ser sócios por meio de fundos de equities. Ele diz já ter aberto conversas com gestoras e que avalia dar mais visibilidade à empresa. “Somos praticamente inexistentes na internet, não temos site nem holding, mas queremos novas formas de financiar aquisições sem precisar de alavancagem”, afirma.