Protagonismo impõe desafios ao agronegócio brasileiro

Protagonismo impõe desafios ao agronegócio brasileiro

O agronegócio tornou o Brasil um protagonista global em segurança alimentar, transição energética e sustentabilidade. Mas o setor ainda tem desafios internos e externos a vencer, e precisa mostrar de uma maneira mais eficiente o que tem de melhor. Foram algumas das conclusões da 2ª edição do “Vozes do Agro”, promovido por Globo Rural e Valor, em São Paulo. Leia também Cresce consumo de proteínas, especialmente entre jovens; ouça o comentário 'Vozes do Agro' discute pressões do mercado com a nova geopolítica Proteínas e biocombustíveis devem impulsionar o agro brasileiro, diz pesquisa O evento reuniu cerca de 100 participantes, entre produtores, empresários, executivos, pesquisadores, consultores e autoridades, que discutiram temas que destacam e preocupam o agro. Os participantes mencionaram, entre as demandas, a necessidade de mais mão de obra qualificada, a plena implantação do Código Florestal, e políticas públicas que estimulem a produção sustentável, tais como crédito mais barato. O país também precisa investir em pesquisa e fazer os avanços chegarem ao produtor. Uma das principais preocupações nas mesas de debate foi com o acesso ao crédito. Os participantes destacaram que o aumento dos juros eleva o custo de capital, o que faz o setor perder oportunidades de negócios. Com limitação de recursos a taxas equalizadas, o Plano Safra perdeu eficiência, e o capital privado, ainda que ajude, não atende toda a demanda. O Brasil precisa de uma política mais clara e de longo prazo para o crédito e também para o seguro rural. Na visão dos participantes, um seguro ‘robusto’ seria menos custoso do que medidas emergenciais de socorro a produtores que sofreram perdas com eventos climáticos. Ainda assim, a produção agrícola brasileira registra recordes e mostra sua resiliência em um ambiente de mudanças climáticas e tensões geopolíticas que causam incertezas. Faltam, no entanto, infraestrutura e logística para reduzir custos e aumentar a competitividade e rentabilidade no agro. Da porteira para dentro, há necessidades como uma rede de energia estável. E, com tanta tecnologia em máquinas e equipamentos, a falta de conectividade impede o produtor de usufruir plenamente as inovações. Da porteira para fora, as dificuldades começam na estrada, afirmaram os participantes. Um país que transporta mais de 60% de sua produção por rodovias está perdendo caminhoneiros, em parte, pela falta de estrutura adequada na malha viária. É preciso solucionar também a falta de capacidade de armazéns e dos portos. Segundo os presentes no evento, isso envolve redução da burocracia e incentivo ao investimento público e privado na logística. Diante dos desafios, os participantes concordaram que a “lição de casa” para o agronegócio, mais uma vez, é melhorar a comunicação com os públicos interno e externo. A conclusão foi a que de que o setor precisa ser mais unido e pragmático, superando questões ideológicas. Ainda na avaliação dos participantes, as lideranças precisam estar mais integradas. Uma atuação mais coesa é importante não apenas para “mudar a narrativa” sobre a produção, mas também chamar a atenção para as prioridades e demandas do setor. Iniciativas de promoção internacional, como “roadshows” setoriais, são positivas. Mas precisam ganhar escala, para o agro mostrar suas práticas sustentáveis como diferencial estratégico, avaliaram.