Safra de trigo da Argentina se aproxima do recorde


A Argentina caminha para colher uma das maiores safras de trigo de sua história, com estimativas que variam entre 22 milhões e 23 milhões de toneladas, segundo representantes do setor cerealista. Se alcançado o volume de 23 milhões de toneladas, o número iguala o recorde histórico registrado na temporada 2021/22. Initial plugin text A produção, impulsionada por condições climáticas ideais e alta aplicação tecnológica no campo, permitirá um aumento significativo nas exportações, com destaque para o Brasil, principal destino do cereal argentino. A expectativa de representantes de moinhos e traders é de uma importação brasileira de 7 milhões de toneladas de trigo argentino. No ano passado, o Brasil importou 6,65 milhões de toneladas de trigo, e a Argentina foi a principal origem das importações, representando cerca de 64% do total. De acordo com Maximiliano Abraham, presidente da Bolsa de Cereales de Bahía Blanca e vice-presidente da Câmara Arbitral de Cereales da mesma cidade, mais de 90% das lavouras em todo o país se encontram em condições “boas a excelentes”. Segundo ele, isso nunca havia sido registrado anteriormente na Argentina. “As chuvas seguiram praticamente um manual de boas práticas: caíram quando e como deveriam. Temos algumas áreas alagadas, com perdas localizadas, mas o restante está em condições impecáveis”, afirmou durante o Congresso Internacional da Indústria do Trigo, que acontece essa semana, no Rio de Janeiro. Ele ressalta, no entanto, que há incertezas em relação à qualidade do trigo, especialmente no que se refere ao teor de proteína, que ainda será definido pelas condições climáticas nas próximas semanas. Desafios Apesar do otimismo com o volume colhido, Abraham lembra que os produtores enfrentam desafios com os preços internacionais baixos e a carga tributária local. "Estamos também diante de uma situação global de preços baixos em todas as culturas, e os produtores argentinos, assim como os de qualquer país do mundo, estão sentindo o impacto desses preços baixos". Ele destacou ainda o impacto adicional das retençiones (impostos sobre exportações) que "distorcem ainda mais os preços para o produtor". Alejandro Castro, presidente da Câmara Arbitral de Cereales de Bahía Blanca, acrescenta que “antes tínhamos retenções e um dólar diferenciado. Agora, pelo menos, temos o dólar unificado. Antes apanhávamos dos dois lados. Agora, pelo menos, temos um só dólar, um único tipo de câmbio", disse, afirmando que, embora não resolva o problema, a medida representou algum alívio. Castro confirma as projeções robustas, mas reforça as preocupações com o manejo sanitário das lavouras. Em regiões semiáridas do sudoeste da província de Buenos Aires, onde o controle de doenças fúngicas geralmente exige uma aplicação, os produtores já realizaram duas ou até três fumigações nesta safra. “Apesar do aumento nos custos de produção com defensivos, os produtores têm conseguido controlar as doenças. Se tudo correr bem, teremos uma colheita muito boa”, disse Castro. Ele destaca que o consumo interno gira em torno de 4 milhões a 6 milhões de toneladas, o que deixaria uma parcela considerável da produção disponível para exportação. “A produção excedente será direcionada principalmente ao mercado externo. O Brasil segue como nosso maior parceiro comercial, mas também exportamos para a Europa, África do Sul e, cada vez mais, para países asiáticos como a Indonésia”. Saiba-mais taboola Na região de Rosario, uma das mais importantes na entrada do trigo para o circuito comercial, o cenário também é promissor. Lucas Ficosecco, presidente da Câmara Arbitral de Cereales de Rosario, relatou que 70% a 80% das lavouras já estão em um momento crítico que define o potencial de rendimento e qualidade do grão. Segundo ele, o uso de pacotes tecnológicos avançados tem sido essencial para garantir a produtividade. Apesar disso, o ritmo de comercialização da nova safra ainda é considerado lento. “Temos entre 3,5 e 4 milhões de toneladas já vendidas, um número baixo comparado a anos anteriores. O produtor argentino está sendo mais cauteloso, aguardando definições sobre o câmbio, impostos e o comportamento do clima”. No entanto, esse cenário deve mudar em breve. “Na semana passada, já vimos vendas diárias de cerca de 100 mil toneladas. A expectativa é que o mercado se movimente com mais intensidade nas próximas semanas”, disse. Ricardo Marra, presidente da Bolsa de Cereales de Buenos Aires, aponta que apesar do otimismo histórico do produtor argentino, o mercado global segue bastante volátil. “Qualquer medida que tome o governo americano, argentino ou de outros países pode influenciar o cenário. Além do Brasil, nosso principal comprador, também exportamos para o Vietnã, porém os Estados Unidos podem pressionar para que esse país compre trigo deles”, explica. Marra observa que, do ponto de vista puramente produtivo, a expectativa é de preços baixos, mas políticas governamentais como a redução ou suspensão das retenções sobre exportações podem alterar esse panorama.