Após 12 anos de testes, Ambev lança nova cevada 'nascida' no Brasil

Após 12 anos de testes, Ambev lança nova cevada 'nascida' no Brasil

Foram 12 anos de cruzamentos em estufa, paciência no campo e anotações de safra em safra até que a ABI Valente finalmente se firmasse como uma nova cultivar de cevada cervejeira. Desenvolvida dentro da Ambev, ela acaba de ser homologada para uso industrial, tornando-se a mais nova aposta da empresa para fortalecer a produção nacional do grão que dá origem à cerveja. “Foi um processo longo, mas que mostra a importância da pesquisa feita aqui, com o nosso clima, o nosso solo e junto dos nossos produtores”, resume Adriana Favaretto, gerente regional de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da companhia. Cruzamentos tradicionais A história da Valente começou em 2011, quando pesquisadores da Ambev cruzaram duas variedades antigas que ainda guardavam bom potencial genético. O trabalho seguiu o método de melhoramento convencional, sem transgenia nem edição gênica, o que exige acompanhar o comportamento de várias gerações de plantas até chegar à estabilidade genética. Adriana Favaretto, pesquisadora de cevada da Ambev Divulgação Ambev “Quando se faz um cruzamento, há uma gama enorme de possibilidades — e nem sempre a planta filha se comporta como o esperado. Por isso, é um processo demorado e cheio de observações”, explica Adriana. Depois de quase uma década de testes em campo, no Rio Grande do Sul, a cultivar foi registrada no Ministério da Agricultura em 2021. Desde então, passou por etapas de validação agronômica e industrial até receber, agora em outubro, a aprovação final da maltaria e das cervejarias da empresa — condição indispensável para ser incorporada ao portfólio da Ambev. Forte no campo e na cerveja Segundo a Ambev, a Valente faz jus ao nome: é 16% mais produtiva que as variedades comerciais atualmente usadas, tem grãos 15% maiores e mais homogêneos, além de maior resistência a doenças fúngicas, o que ajuda a reduzir o uso de defensivos. “Essas características interessam tanto ao produtor quanto à indústria. É uma cevada que entrega mais no campo e mais na cerveja”, diz Adriana. A cultivar se junta agora a outras duas variedades comerciais usadas pela companhia — ABI Rubi e BRSCaue, esta última desenvolvida pela Embrapa. Os produtores parceiros não pagam royalties pelo uso da Valente, que também poderá ser licenciada futuramente a outras indústrias cervejeiras. Rumo à autossuficiência Embora o Brasil tenha tradição no cultivo de cevada no Sul, a produção nacional ainda é insuficiente para atender à demanda das maltarias. A Ambev busca reduzir a dependência de importações, ampliando a base de produtores e o uso de variedades adaptadas às condições locais. “O cultivo de cevada vem crescendo no país, e novas cultivares como a Valente ajudam a expandir essa fronteira agrícola”, afirma Adriana. Na safra 2024/25, o país produziu 553,3 mil toneladas, volume 7,2% superior ao do ciclo anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A região Sul respondeu por 92% da colheita brasileira. A pesquisadora lembra que o trabalho de melhoramento é contínuo. “Variedades não duram para sempre. Elas precisam evoluir junto com o campo, com o clima e com a cerveja que queremos fazer. A Valente é um marco nessa trajetória, mas é também o início de um novo ciclo de inovação.” Campo de cevada da Ambev Divulgaçaõ