Banco do Nordeste financia construção e reforma de banheiros em pequenas propriedades rurais

Banco do Nordeste financia construção e reforma de banheiros em pequenas propriedades rurais

Em apenas quatro meses, o Banco do Nordeste financiou 66 mil propostas de construção ou reforma de banheiros em pequenas propriedades rurais, levando dignidade a agricultores familiares sem condições básicas de saneamento. A iniciativa, lançada no Plano Safra 2025/2026, é direcionada a produtores com renda bruta anual de até R$ 50 mil. O crédito é concedido no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) em condições facilitadas, com taxa de juros de 0,5% ao ano e prazo de pagamento de até três anos. Segundo o banco, a expectativa é financiar cerca de 100 mil banheiros, somando R$ 300 milhões em operações ao longo do ciclo. Por trás dos números estão histórias reais de milhares de famílias agricultoras do semiárido brasileiro, cuja ausência de infraestrutura sanitária adequada compromete a saúde e a segurança das pessoas. “A falta de banheiros no meio rural não é apenas uma questão de conforto, mas um problema sério de saúde pública e dignidade humana. Famílias inteiras sofrem impacto direto na autoestima e na qualidade de vida”, ressalta Luiz Sérgio Farias Machado, superintendente de agronegócio e microfinança rural do Banco do Nordeste. A motivação para o desenvolvimento da iniciativa inclusive aconteceu quando o executivo assistiu a uma reportagem do Globo Rural que mostrava a realidade de mais de quatro milhões de brasileiros que vivem sem banheiro e lançou a ideia ao governo federal, responsável pela definição das linhas de crédito do Pronaf. Um diferencial importante da linha de crédito para infraestrutura sanitária é que ela não compromete o limite de financiamento já disponível ao produtor dentro do Pronaf. Ou seja, o agricultor pode contratar o crédito para o banheiro e ainda ter acesso a outras linhas para custeio, investimento e fortalecimento da produção, garantindo mais acesso à inclusão. Agroamigo O crédito para banheiros integra uma estratégia mais ampla do Banco do Nordeste, o Agroamigo, programa de microfinança rural que completa 20 anos em 2025 com resultados expressivos: R$ 52 bilhões aplicados, 9 milhões de operações e impacto direto e indireto na vida de 16 milhões de pessoas. O programa opera com uma metodologia diferenciada. São 1,5 mil agentes de crédito atuando em mais de 2.070 municípios, oferecendo orientação presencial, acompanhamento técnico e crédito sequencial e gradual. Essa proximidade explica os baixos índices de inadimplência e o alto impacto social da iniciativa. Segundo Machado, estudos realizados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) indicam que o Agroamigo aumenta a renda do produtor, melhora o valor bruto da produção, sendo relevante também para a elevação da arrecadação de tributos. Já o Etene (Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste, área de pesquisa do Banco) comprova o impacto do programa: os municípios atendidos apresentam IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) estatisticamente superior, e as pessoas beneficiadas demonstram melhor padrão de consumo e acesso a bens como internet, veículos e saneamento básico. Além dos banheiros O programa financia desde atividades agropecuárias tradicionais até empreendimentos não agrícolas desenvolvidos no meio rural, como produção de queijos, doces e artesanato - atividades frequentemente lideradas por mulheres. Não por acaso, dos R$ 8 bilhões aplicados em 673 mil operações realizadas neste ano, 53% foram destinados a mulheres, quebrando barreiras culturais históricas do Nordeste rural. "No início do programa, para financiar uma mulher, era obrigatória a autorização do marido. Mas felizmente conseguimos mudar isso e hoje quando nossos agentes chegam a uma propriedade, precisam ouvir a mulher sobre as atividades que ela desenvolve", conta Machado. Entre as inovações recentes do Agroamigo estão o financiamento para energia solar e para conectividade. Neste ano, R$ 26 milhões foram aplicados na aquisição de estrutura de conexão à internet, totalizando 16 mil operações. A preocupação com a gestão da água também ganhou linha específica: R$ 890 milhões foram destinados a projetos hídricos em 2025. A agricultura regenerativa e orgânica, características da produção familiar, recebeu 104 mil contratos e R$ 1,2 bilhão de crédito. Com a digitalização, 40% das operações do programa já são assinadas eletronicamente no próprio campo, via aplicativo, eliminando deslocamentos que antes chegavam a 200 quilômetros. O próximo passo é o lançamento de um sistema totalmente digital para os agentes de crédito, eliminando o uso de papel e acelerando ainda mais os processos. Para o agricultor familiar do Nordeste, o Agroamigo representa mais do que crédito: é a ponte entre a tradição rural e um futuro com oportunidades concretas de permanência no campo. "Estamos falando de transformação social, de dignidade, de qualidade de vida. Estamos construindo um campo onde as pessoas queiram permanecer, com condições dignas de vida e trabalho”, conclui Machado.