Carne animal vs carne vegetal

carne de origem animal e a “carne” de origem vegetal não são a mesma coisa, em termos nutricionais, segundo um estudo publicado no prestigioso periódico científico Nature (A metabolomics comparison of plant-based meat and grass-fed meat indicates large nutritional differences despite comparable Nutrition Facts panels. Stephan van Vliet et al, 2021). Os autores compararam a composição nutricional da carne bovina com um produto plant-based, que busca mimetizar o sabor e a composição da carne vermelha. Saiba-mais taboola Para tanto, usaram uma análise metabólica dos nutrientes dos dois produtos, e não o painel nutricional padrão que indica genericamente a presença de proteínas, minerais e gorduras, pelo qual seriam considerados produtos muito similares. Sob essa ótica mais precisa, os autores verificaram que, apesar da aparente similaridade no painel nutricional, a carne vermelha se diferencia em 90% dos seus metabólitos da carne vegetal (171 em 190 metabólitos). Entre eles, 22 nutrientes foram encontrados exclusivamente na carne vermelha (tais como a vitamina B3 e os antioxidantes alantoina, anserina, cistamina e espermina) e 51 nutrientes em quantidade significativamente superior. Na carne vegetal, os pesquisadores encontraram 31 metabólitos exclusivos desse produto (os antioxidantes loganina, tirosol e ácido vanílico, por exemplo) e outros 67 em maiores quantidades. Globo Rural A grande diferença entre os dois produtos em nutrientes com importantes funções fisiológicas, anti-inflamatórias e imunológicas, levou os autores a concluírem que esses produtos não são intercambiáveis ou substitutivos entre si, mas sim devem ser vistos como complementares em termos nutricionais. Contudo, a despeito de os produtos plant-based poderem ser uma opção nutricional complementar, os autores alertam que, embora a fortificação adicional e o avanço tecnológico possam aumentar um pouco a semelhança nutricional entre a carne à base de plantas e a carne natural, como os alimentos têm milhares de constituintes que podem impactar sinergicamente o metabolismo humano, o consumo de nutrientes isolados ou alimentos fortificados muitas vezes não oferece benefícios semelhantes aos dos nutrientes que se ingere como parte da matriz alimentar completa. Leia mais opiniões de especialistas e lideranças do agro Os pesquisadores citam, por exemplo, que uma dieta sem carne que tenha suplementação com zinco e outros minerais que há na carne não resultam em níveis de zinco in vivo semelhantes quando se fornecem quantidades equivalentes desses minerais como parte da matriz natural da carne. Os autores encontraram resultados similares para outros nutrientes, como cobre, cálcio e vitaminas A, C e D, associados à proteção contra doenças quando obtidos a partir de sua presença natural nos alimentos, mas muitas vezes não quando obtidos de fontes fortificadas ou suplementares. Estudos dessa natureza são importantes para que consumidores e profissionais da saúde possam avaliar alternativas nutricionais, especialmente no cenário atual, de aumento da demanda global por alimentos e de escalada da oferta de produtos alternativos. *Luiz Josahkian é zootecnista, professor de melhoramento genético e superintendente técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural

