Com arsenal ‘high tech’, bancos desburocratizam crédito rural
Os grandes bancos estão aplicando maciçamente satélites, robôs, leitores ópticos, inteligência artificial (IA), machine learning, análise de dados e outras ferramentas e soluções tecnológicas na estruturação do crédito para o agronegócio. Os bilhões de reais em empréstimos que as instituições concedem todos os anos geram toneladas de dados críticos inseridos na gestão de riscos e compliance dos financiamentos e seguros rurais, que vão do alinhamento da propriedade ao zoneamento agrícola até listas de trabalho análogo à escravidão, desmatamento e cadastro rural. Saiba-mais taboola “A tecnologia tem permitido uma qualificação prévia mais precisa das operações, reduzindo o risco de propostas que não atendam integralmente às exigências regulatórias”, sustenta o diretor de agronegócios e agricultura familiar do Banco do Brasil, Alberto Martinhago. “São mais de 1,5 mil soluções analíticas e mais de 800 modelos com IA, com incremento de 130% nos últimos três anos”, ressalta. Principal financiador do agro no país, o BB montou uma Rede de Assessoramento Técnico em Nível de Carteira (ATNC), formada por 250 profissionais de ciências agrárias. Eles são responsáveis por avaliações presenciais dos imóveis oferecidos em garantia e alimentam o Sistema RTA (Referencial Técnico Agropecuário). Desse trabalho deriva um processo automatizado que estima o valor de mercado do bem, bastando, para tanto, informar as coordenadas geográficas e os tipos de uso do solo do imóvel. O espanhol Santander fiscaliza 20 mil propriedades por satélite diariamente, relata Carlos Aguiar, diretor de agronegócios do banco. “Acessamos 20 bases públicas, analisando embargo, desmatamento, terra indígena, floresta pública, [área] quilombola, parque — tudo o que pode dar problema. O mais complexo de todos é o desmatamento, que se pode detectar de um dia para o outro, antes do Ibama”, afirma. Aguiar acrescenta que, via sensoriamento remoto, o banco já está na terceira medição do portfólio do agro em termos de emissão de carbono, cruzando dados da Embrapa sobre a emissão das diversas culturas nos diferentes Estados. E ressalta a eficiência operacional derivada do uso intenso da tecnologia na lida com a burocracia do crédito rural. Agilidade O diretor de agronegócios do Bradesco, Roberto França, tem a medida dessa eficiência: “Levava dez, 15 dias para os bancos transitarem a documentação dentro da organização e acessar o crédito; hoje, consigo conceder um crédito rural muitas vezes em dois, três dias”, relata. O executivo enfatiza que a gestão de dados, próprios ou de terceiros, é imprescindível para lidar com mais de 50 mil contratos na base. Esse trabalho torna mais assertiva a concessão de crédito e facilita o processo de contratação do financiamento e sua conformidade com as exigências regulatórias, sem que o tomador precise ir ao banco. No Bradesco, toda a tramitação do pedido do crédito rural e enquadramento é feita via aplicativo ou internet, por meio da plataforma E-agro. Criada há três anos, durante a pandemia de covid-19, a plataforma foi responsável por R$ 2 bilhões de crédito rural no ano passado e deve fechar este ano-safra (2025/26) com R$ 5 bilhões, do total de R$ 35 bilhões de concessões do banco, segundo França. Na mesma época, a Brasilseg — a seguradora do BB — lançou O Broto, uma vitrine digital para máquinas e implementos agrícolas. “Geramos mais 35 mil oportunidades de negócio para as empresas que anunciam na plataforma, o que já resultou em R$ 9,7 bilhões em negócios. Hoje, temos mais de 360 mil produtores cadastrados e recebemos mais de 12 milhões de visitas”, conta Evaldo Gonçalo, CEO da empresa, hoje independente. Plano Safra O Plano Safra 2025/26, principal programa do governo federal de financiamento da atividade agropecuária, prevê, ao todo, R$ 594,4 bilhões em crédito aos produtores no atual ciclo. A agricultura familiar ficará com R$ 78,2 bilhões desse montante, e médios e grandes produtores, com R$ 516,2 bilhões. Bancos públicos e privados, além das cooperativas de crédito, participam da distribuição dos recursos. Na atual temporada, as linhas que têm juros subsidiados pelo Tesouro Nacional somam R$ 43,4 bilhões. Nos três primeiros meses do Plano Safra 2025/26, os desembolsos de crédito rural chegaram a R$ 156 bilhões, segundo o Ministério da Agricultura. O volume foi 12% menor do que o do mesmo intervalo do ciclo 2024/25. (Colaborou Rafael Walendorff, de Brasília) 29/10/2025 20:52:35

