Irmãos plantam algodão em área recuperada e colhem 315 arrobas por hectare

Na Fazenda Itaúba, no norte do Mato Grosso, os fardos de algodão cobertos ainda permanecem no campo à espera de transporte para a beneficiadora, mas os irmãos gaúchos Igor, Ivan e Gerson Biancon comemoram a produtividade de 315 arrobas por hectare obtida neste ano em uma terra arrendada em 2021. Leia também A volta do ouro branco ao sertão: plantio de algodão é retomado no Nordeste Aplicativo auxilia produtores a reduzir defensivos em lavouras de soja e algodão na Bahia Brasil lançará com a FAO iniciativa para recuperar áreas degradadas A festa tem motivo: a produtividade média na safra no Estado foi de 308 arrobas e foi a primeira vez que eles plantaram algodão, cultura que demanda um solo bem fértil, em uma área degradada que abrigava pastagens desde a década de 70. A recuperação de 4.000 hectares degradados dos 7.000 hectares da fazenda, que fica a 580 quilômetros de Cuiabá, começou logo após o arrendamento. A transformação da área para cultivo de grãos foi possível graças ao contrato firmado pela família como primeiro cliente do programa Reverte, lançado pela parceria de Syngenta e Itaú BBA para recuperar terras de pastagens degradadas. “A gente já tinha fechado o arrendamento e estava buscando um financiamento para converter a área. Em conversa com nosso gerente do Itaú, surgiu a oportunidade de participar do Reverte. Como a família dona da área tinha as licenças ambientais e tudo legalizado, rapidamente a gente conseguiu juntar a documentação que era exigida pelo compliance do Itaú e da Syngenta e acessamos o financiamento”, conta Igor Biancon, 36 anos, o irmão do meio que é responsável pela administração da propriedade. O primeiro passo foi limpar a área, retirar cercas, restos de pastagens e de outras culturas, abrir e cascalhar estradas e estruturar o terreno para plantio. Foram aplicados de 5 a 6 toneladas de calcário por hectare para corrigir o solo e fosfato para aumentar a fertilidade, aproveitando que o preço dos insumos na época estava bom. No primeiro ano, foram convertidos em torno de 2.200 hectares para o plantio de soja, com um resultado que os irmãos classificam como bem interessante: 56 sacas de soja já na virada da pecuária para a agricultura. Depois, a produtividade foi aumentando e chegou a 69 sacas neste ano. A exceção foi a safra 2023/24, em que houve um El Nino bastante severo na região. "As análises químicas que fazemos todos os anos mostram uma mudança muito grande na estrutura do solo, que agora está muito mais vivo e fértil. A produtividade vai subindo todos os anos porque o solo está evoluindo e entregando mais resultado para a planta", afirma Igor. Segundo o produtor, a importância de manter o solo vivo é ter sustentabilidade não apenas ambiental como financeira porque o negócio tem que dar lucro. Produtividade vai subindo todos os anos, afirma Igor Biancon Eliane Silva/Globo Rural Foi com base nas análises químicas e de seu histórico como produtores e beneficiadores de algodão em outras quatro fazendas próprias do grupo no Mato Grosso que eles decidiram plantar a pluma na safrinha. "Não é uma coisa muito comum. A gente sabe que o algodão é uma cultura muito exigente, então o pessoal normalmente procura entrar com algodão em áreas extremamente férteis, que têm cultura há muito tempo, mas mesmo assim a gente imaginou que conseguiria um bom resultado pelo que vimos na soja e milho e pela altitude da fazenda de 500 metros, boa para o algodão. Deu certo. Pena que o preço este ano está lá embaixo", afirma Igor. Valorização da terra Os irmãos dizem que a reversão de uma área arrendada por dez anos foi um risco calculado. Na época, as commodities estavam com bons preços e o financiamento se pagou em poucos anos. Igor estima que as terras recuperadas tiveram uma valorização de pelo menos 50%, mas diz que não faria esse investimento em anos de rentabilidade mais baixa como 2025. "O cenário atual é de muitas recuperações judiciais e inadimplência. O grupo que decidir fazer investimentos vultosos agora tem que estar com muita estrutura financeira para isso. Se não, a chance de dar errado é grande", alerta Igor. Integração Além de soja, algodão e milho, os irmãos fazem integração lavoura-pecuária na terra arrendada e dizem que a recuperação das pastagens degradadas impulsionou também a pecuária. Ivan, o irmão mais novo, conta que a ILP entrou na fazenda por uma viabilidade econômica. Nas áreas mais arenosas, em que a safrinha de grãos não teve um resultado muito bom, eles plantaram braquiária e entraram com gado de corte após a colheita da soja. Começaram com 1.000 cabeças e neste ano chegaram a 7.000. O gado fica uns 3 meses no pastejo antes da volta da soja. “Mesmo com pouco tempo, é muito viável porque você tem um pasto de boa qualidade, bem viçoso. Então, podemos colocar uma lotação relativamente alta de boi em cima. Neste ano entramos com 7, 8 e até mais bois por hectare. E a matéria orgânica que o boi deixa no solo faz a gente colher mais soja depois”, diz Ivan, responsável pela pecuária do grupo. Ivan Biancon é responsável pela pecuária do grupo Eliane Silva/Globo Rural O próximo plano dos irmãos é produzir na fazenda um biofertilizante usando os dejetos dos animais visando reduzir custos diante de margens cada vez mais apertadas. O fertilizante representa atualmente cerca de 40% dos custos de produção da lavoura. Igor, Ivan e Gerson são filhos do advogado Carlos Ivan Biancon, que se mudou de Seberi (RS) com a família para Lucas do Rio Verde em 1993 sem ter nenhuma experiência com agricultura. O pai começou a comprar terras na região, se estabeleceu como produtor de soja e pecuarista e hoje o grupo Biancon, além da área arrendada, tem quatro fazendas em Mato Grosso. No total, são 45 mil hectares de safra e safrinha, além de três unidades de beneficiamento e armazenagem de grãos, com capacidade de estocar 1,1 milhão de sacas, duas unidades de confinamento de bovinos e uma de cria, recria e engorda. Há alguns anos, o patriarca passou as fazendas para os filhos, todos formados em administração. Na safra 2024/25, eles colheram 18 mil toneladas de pluma, 1,5 milhão de sacas de soja e 1,3 milhão de sacas de milho. *A repórter viajou a convite da Syngenta

