Unir campo e floresta é caminho para o planeta crescer com sustentabilidade

Unir campo e floresta é caminho para o planeta crescer com sustentabilidade

O mundo tem enfrentado os dilemas do aquecimento global e as pressões para a busca de propostas e soluções capazes de aliar a preservação do meio ambiente ao desenvolvimento econômico. Se há décadas esta junção parecia impensável, nos anos recentes, com o aumento da temperatura do planeta e as sucessivas tragédias ambientais, passou a ser obrigatório que governos, setor produtivo e sociedade civil colocassem as diferenças de lado e se sentassem à mesa para encontrar saídas. Saiba-mais taboola A COP 30 realizada em Belém reuniu esses debates no mesmo espaço-tempo. Realizar um encontro desse porte no coração da Amazônia impõe seus desafios, por óbvio. Mas, ao mesmo tempo, permite que as causas e os efeitos do debate sejam presenciados pela janela, por meio de uma rota de ônibus ou de um deslocamento rápido de barco. O quadro vivo do debate ambiental pintado em cores fortes diante dos olhos do mundo. Nessa discussão, não há como deixar o agronegócio, especialmente a pecuária, de fora. Vilanizado como um dos principais responsáveis pelo desmatamento na região, os produtores – responsáveis – em parceria com instituições como o Banco da Amazônia, se esforçam para resolver as pendências. Porque sabem que não há como crescer sem preservar. Dados do IBGE mostram que a região Amazônica responde por 44,8% do rebanho bovino do país (104,8 milhões de cabeças). É uma atividade que tem 402 anos de história, mas que foi intensificada durante os anos 1960 e 1970, por meio de estímulos para que produtores de outras regiões do país se deslocassem para o Norte, impulsionados por incentivos fiscais e vastas extensões de terras a serem exploradas. Globo Rural Durante a COP 30, um dos principais painéis apoiados pelo Banco da Amazônia foi o que discutiu a chamada Pecuária 4.0 ou Pecuária Verde. Estamos falando de uma ação que integra crédito rural, assistência técnica, métricas de monitoramento e um bônus socioambiental para reconhecer boas práticas produtivas. Tudo misturado, a ideia é aumentar a produtividade, recuperar áreas degradadas, reduzir a emissão de CO2 e aproximar os produtores rurais de mercados mais exigentes em sustentabilidade. Afinal, cada vez mais, o mundo exige que as carnes compradas venham com selo de responsabilidade ambiental. São linhas de crédito específicas voltadas à recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e digitalização das fazendas, mudanças que elevam a produtividade por hectare e reduzem a pressão sobre a floresta. Linhas como o FNO Amazônia Rural Sustentável e o FNO ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono) que financiam práticas de recuperação de solo, adubação orgânica, plantio de árvores nativas em áreas de pastagem e uso de sensoriamento remoto e chips de monitoramento animal – tecnologias típicas da chamada Pecuária 4.0. Esses financiamentos vêm acompanhados de assistência técnica e condicionantes ambientais, garantindo que cada investimento tenha retorno econômico e impacto positivo no território. Essas práticas ficam soltas se não tiverem recursos suficientes para serem desenvolvidas. Por isso, disponibilizamos, no Plano Safra 2024/2025, um total de R$ 12,7 bilhões, divididos da seguinte maneira: R$ 1,8 bilhão para agricultura familiar e R$ 10,2 bilhões para agricultura empresarial. Esses valores representam um aumento de 112% em relação ao Plano Safra anterior. Especificamente no contexto da COP 30, tivemos o lançamento do programa Financiamento Sustentável e Inclusivo da AMABIO, com R$ 4 milhões em recursos não reembolsáveis para projetos comunitários, além de investimentos na agricultura familiar que superaram R$ 1,3 bilhão em 2024. O Pecuária 4.0 foi iniciado como projeto piloto em Roraima em 2022. Mapeamos a propriedade em termos de preservação ambiental e áreas utilizáveis. Fizemos um piloto readequando áreas de preservação, melhorando manejo do rebanho. Hoje, a foto de satélite mostra as propriedades adequadas à legislação ambiental, com áreas de preservação permanente e suas matas ciliares recuperadas. Leia mais opiniões de especialistas e lideranças do agro Por conta disso, tem mais água, melhor manejo da alimentação do rebanho, produção de proteína maior do que antes. Existem possibilidades, precisamos conscientizar produtores — desde pequenos que usam queimada até os grandes — de que soluções existem e são economicamente viáveis. A escolha do estado piloto não poderia ser mais adequada. O rebanho bovino de Roraima atingiu um recorde de mais de 1,3 milhão de cabeças em 2025, registrando um crescimento de 85% em sete anos, crescimento impulsionado pela adoção de novas tecnologias e melhorias genéticas, como a disseminação da raça Angus. A previsão para o abate em 2025 é de 180.515 bois. Saímos da COP 30 com uma missão e um objetivo: mostrar que financiar a pecuária na região não é sinônimo de ampliar desmatamento, e sim de acelerar a transição produtiva, promover boas práticas ambientais e fortalecer a inclusão econômica de milhares de produtores. Aliar crédito rural a critérios socioambientais robustos é promover uma transformação territorial, capaz de impulsionar tecnologia, rastreabilidade e sustentabilidade. Só assim seremos mais eficientes. Apenas desta forma seremos ambientalmente sustentáveis. Se não seguirmos esses caminhos, não cresceremos de maneira justa, inclusiva, equilibrada e responsável. *Luiz Lessa é CEO do Banco da Amazônia As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural