COP30: a resposta virá do campo

No final do século XIX, Thomas Malthus, considerado o pai da demografia, lançou um alerta: o crescimento populacional seria incompatível com a produção de alimentos. Isso porque, enquanto os meios de subsistência cresciam em progressão aritmética, a população evoluía de forma geométrica. Desta maneira, com o passar do tempo não seria possível alimentar a todos. Saiba-mais taboola A previsão, felizmente, não se confirmou. A pesquisa científica e o ímpeto dos produtores rurais mostraram que o campo poderia dar conta do crescimento demográfico, com a produção de mais alimento por área. Ou seja, a tese malthusiana caiu por terra em função dos avanços da agropecuária. Agora, o mundo se vê diante de outros desafios, cuja solução também está endereçada à classe produtora. As mudanças climáticas têm impactado, cada vez mais, a vida na cidade e no campo, elevando os riscos de desastres naturais. Vamos falar sem rodeio: grande parte da solução virá da agropecuária. Está na hora de ter essa conversa, sem filtro, a nível global, para o bem da sociedade. E o palco ideal para demonstrar, de forma consistente, que a agricultura é parte da solução para as mudanças climáticas é a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro em Belém, no Pará. Claro isso passa por uma série de estratégias públicas e privadas, que precisam ser adotadas no curto prazo, tamanha é a urgência do desafio. A boa notícia é que diversas destas ações já estão em curso. No Paraná, por exemplo, o uso de tecnologias para a transição energética vem sendo fomentada há anos no meio rural, a ponto de ter atingido um grau de maturidade significativo. A produção de biogás por meio do processo de biodigestão em propriedades rurais é uma realidade no Estado, transformando o passivo ambiental de atividades como avicultura e suinocultura em ativos energéticos. No que se refere ao uso de biocombustíveis, o programa Movido pelo Agro, lançado, em junho, incentiva o uso do etanol na frota paranaense de automóveis. Afinal, o abastecimento com combustível verde implica uma série de vantagens. Por ter maior teor de octanagem em relação à gasolina, o etanol melhora o desempenho do veículo. Globo Rural Com isso, o motor dos automóveis se torna 2% mais potente. Do ponto de vista ambiental, em comparação com a gasolina, o etanol reduz em 89% a emissão de gases do efeito estufa, como o gás carbônico (CO2), metano e óxido nitroso, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O uso de energia solar nas propriedades rurais é outra prática fomentada há tempo no Paraná. Hoje, 398 dos 399 municípios dispõem de conjuntos de energias renováveis no campo. São quase 40 mil propriedades rurais com painéis fotovoltaicos ou com biodigestores. Esse movimento continua em franca expansão. Só no ano passado, mais de 7,1 mil produtores aderiram às energias renováveis. Com isso, o Paraná foi o Estado que mais avançou em potência instalada no país. No que tange o uso de sistemas sustentáveis de agricultura regenerativa, o Paraná já está bastante avançado com ações como rotação de culturas, plantio direto e produção orgânica. Ainda, o solo e a água, maiores patrimônios dos produtores rurais e fundamentais para a humanidade, são prioridades dentro da porteira. Isso porque o solo bem conservado proporciona melhora da qualidade da água e do meio ambiente, além de maior produtividade ao produtor. Para além disso, o setor agropecuário é o maior responsável pela preservação ambiental. O Código Florestal exige que todo imóvel rural mantenha parte de sua área com vegetação nativa, com áreas de Reserva Legal e/ou de Preservação Permanente. No Cerrado e na Amazônia Legal, por exemplo, 35% das propriedades devem ter área preservada. No restante do país, esse índice é de 20%. Um estudo da Embrapa Monitoramento por Satélite aponta que 25% do território nacional são formados por vegetação nativa conservada, o que corresponde a mais de 200 milhões de hectares. Leia mais opiniões de especialistas e lideranças do agro Por tudo isso, o setor agropecuário é o principal responsável pela absorção de gás carbônico (CO2) da atmosfera, por meio de processos biológicos ligados à fotossíntese e ao manejo adequado do solo e da vegetação – o chamado “sequestro de carbono”. Inclusive, estudos científicos comprovam que a agropecuária remove mais gás carbônico da atmosfera do que emite. Diante de tantos exemplos, a expectativa é de que os dirigentes da COP30 se sensibilizem a ponto de dissolver uma barreira ideológica que opõe, de maneira irracional, a produção de alimentos e a conservação do meio ambiente. Essas duas atividades não só não são excludentes. Ao contrário, uma depende da outra para sobreviver. Isso prova que, mais uma vez na história, a resposta para enfrentar os desafios globais virão do campo. Contem sempre com o agro. *Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema FAEP As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural

