Demanda cresce, oferta interna não acompanha e Brasil deve bater novo recorde de importações de fertilizantes

Demanda cresce, oferta interna não acompanha e Brasil deve bater novo recorde de importações de fertilizantes

A demanda por fertilizantes no Brasil segue em crescimento e deve alcançar um novo recorde em 2025, impulsionada principalmente pelo uso crescente de produtos menos concentrados. A oferta doméstica, por outro lado, avança em ritmo mais lento, o que deve resultar em mais um marco histórico para as importações. De janeiro a setembro, o volume importado já era 7% superior ao registrado no mesmo período de 2024 e, mantido esse ritmo, o país encerrará o ano com o maior volume já adquirido no mercado externo. Leia também: Produtores antecipam compras de fertilizantes da safra de verão Petrobras anuncia retomada de investimentos de unidade de fertilizantes Segundo Tomás Pernías, analista de inteligência de mercado da StoneX em seminário da consultoria, esse descompasso entre consumo e produção não é novo, mas tem se intensificado. “A cada ano que passa, o Brasil tem um pequeno aumento da área plantada e uma maior preocupação com nutrição vegetal, principalmente em um contexto de margens apertadas”, explica. Com isso, a tendência é que a demanda continue crescendo de forma gradual nos próximos anos. Nos últimos dez anos, o consumo nacional cresceu em média 4% ao ano, enquanto a produção interna, apesar de uma alta de 7% em 2025 frente ao ano anterior, ainda permanece abaixo do patamar registrado em 2013. “Mesmo que o Brasil atinja uma produção maior do que em 2024, ainda assim estaremos abaixo do nível de 2013. Se passaram mais de dez anos e ainda vai ser menor”, destaca Pernías. A produção brasileira segue concentrada, sobretudo, em fertilizantes fosfatados, especialmente superfosfato simples (SSP), em razão de um parque industrial é mais desenvolvido. A fabricação de nitrogenados e potássicos, por outro lado, permanece defasada. Segundo o analista, essa limitação estrutural faz com que o país dependa crescentemente de importações para atender à demanda. “Em 2002, o Brasil produzia 60% da ureia consumida internamente. Hoje, esse número caiu para menos de 5%. No caso dos potássicos, caímos de 12% para menos de 3%”, afirma. Essa dependência torna o mercado brasileiro altamente vulnerável a oscilações de preços, conflitos geopolíticos e gargalos logísticos no mercado internacional. “Estamos muito sujeitos a qualquer desastre, conflito ou ameaça de distribuição que impacte os preços no mercado global”, pontua. Um dos fatores que mais contribuem para o crescimento do volume importado em 2025 é a mudança de perfil da demanda. Há uma clara preferência do mercado por fertilizantes menos concentrados, como SSP, NP e sulfato. Como esses produtos exigem maior volume físico para fornecer os mesmos nutrientes ao solo, o resultado é um aumento expressivo nas entregas. “Para suprir toda a necessidade nutricional do mercado brasileiro com fertilizantes menos concentrados, nós realmente precisamos de mais volume físico”, diz Pernías. A StoneX estima que, se a tendência atual se mantiver, as importações fecharão o ano com crescimento de 7% em relação a 2024, consolidando o novo recorde. Nos últimos dez anos, as importações brasileiras cresceram, em média, 6% ao ano — acima do próprio crescimento da demanda (4%) e da economia como um todo (2%). “Essa diferença é explicada, principalmente, pela estagnação da nossa produção interna”, pontua. Para suprir toda a necessidade nutricional do mercado brasileiro com fertilizantes menos concentrados, nós realmente precisamos de mais volume físico. Desempenho regional desigual O crescimento da demanda não é uniforme no território nacional. Enquanto Estados como Mato Grosso do Sul (+28%), Paraná (+26%) e Mato Grosso (+19%) registram forte alta nas entregas em relação a 2024, outras regiões apresentam retração. São os casos da Bahia, com queda de 9%, e de São Paulo, onde o mercado, especialmente o de açúcar, enfrenta mais dificuldades em 2025. Entre as regiões, o Centro-Oeste lidera com crescimento de quase 20% nas entregas, seguido pelo Sul, com alta de 16%. Já o Norte e o Nordeste, que nos últimos anos mostraram forte avanço no consumo, apresentam neste ano um desempenho mais fraco, “defasado em relação ao ano passado”, observa o analista. Sazonalidade dentro do esperado Apesar das mudanças no perfil dos fertilizantes e na distribuição regional, a sazonalidade das entregas segue o padrão histórico. Pernías observa que há uma desaceleração natural no primeiro semestre, com meses mais fracos como março e abril, seguida de um aumento gradual à medida que se aproximam os preparativos para a safra de verão, no segundo semestre. “No final do ano, a tendência também é de uma queda gradual do consumo de fertilizantes”, afirma. A regularidade do comportamento sazonal, segundo ele, ajuda a antecipar os movimentos de mercado, mas não reduz os riscos estruturais ligados à dependência externa. "O enfraquecimento dos preços dos fosfatados e potássicos nos meses finais do ano, se concretizado, teria impacto limitado para melhorar as condições dos produtores domésticos, pois a maior parte das aquisições foi realizada ao longo do ano, em um contexto de preços elevados e relações de troca pouco atrativas", pontua o analista. "Por outro lado, o fortalecimento das compras brasileiras no mercado de nitrogenados, aliado à volatilidade que marca o setor, tampouco sugere algum alívio para os compradores", completa. Expansão e limites de curto prazo Projetos de ampliação da capacidade nacional de produção estão em andamento, como a expansão da produção de fosfatados em Minas Gerais, de potássicos em Autazes (AM), e o interesse da Petrobras em retomar a produção de nitrogenados. No entanto, os efeitos dessas iniciativas não serão imediatos. “Esses projetos demoram para ter resultado, às vezes anos, às vezes décadas”, pondera Pernías. “No curtíssimo prazo, a maior probabilidade é de que a produção de fertilizantes cresça de forma gradual. Os patamares não devem mudar tanto”.