Escoamento da produção agrícola depende de estradas em más condições


Estados e governo federal programam concessões e investimentos nas estradas do Centro-Oeste, que enfrenta dificuldades para escoar a crescente produção agrícola em uma rodoviária que em sua maioria (68,2%) foi classificada como regular, ruim ou péssima pela Pesquisa CNT de Rodovias 2024, organizada pela Confederação Nacional do Transporte. “As condições ruins limitam a fluidez, aumentam o tempo de transporte e comprometem a competitividade da região”, diz Fernanda Rezende, diretora-executiva da entidade. Leia também: Falta de armazéns para grãos eleva trânsito rodoviário após a colheita Aviação executiva reposiciona frota para atender demanda de produtores rurais Apenas 31,8% das vias - o trabalho analisou todas as federais pavimentadas e as principais estaduais - receberam conceito bom ou ótimo. O piso é um dos pontos mais críticos: só 4,4% da malha tem pavimento perfeito, enquanto mais da metade está desgastada e quase um terço tem trincas e remendos. “Isso evidencia uma baixa qualidade que exige investimento urgente”, prossegue Rezende. Goiás, com 21,2 mil km de vias estaduais, usa o Fundo Estadual de Infraestrutura (Fundeinfra), abastecido com alíquotas de 0,50% a 1,65% cobradas de produtos agropecuários, para bancar parte dos R$ 3,6 bilhões previstos em rodovias para este ano, o triplo do volume registrado em 2019. O Mato Grosso, com 2.360 km de vias estaduais, afirma que em 2024 foram investidos R$ 4,6 bilhões na malha e faz licitações para reparos em 673 km de vias. O Distrito Federal (quase 2 mil km de pistas) anunciou 110 km de estradas rurais pavimentadas. O Mato Grosso do Sul não se manifestou. Outra alternativa são as concessões. A região foi alvo de dois leilões federais acirrados, a Rota Verde e a Rota do Agro, vencidos pelo consórcio liderado pela Azevedo Investimentos e cuja previsão de investimentos totaliza mais de R$ 7 bilhões. “O Centro-Oeste terá a maior taxa de crescimento do PIB nos próximos 30 anos, impulsionado pela expansão agrícola da soja e do milho. Estamos no início de uma nova fase no país, com complementaridade entre rodovias e ferrovias”, afirma Vaney Iori, diretor-geral da companhia. No levantamento da CNT, rodovias concedidas têm desempenho superior às sob gestão pública, que têm 74,8% classificadas como regulares, ruins ou péssimas. No caso das concessões, são 53,1%. Condições ruins comprometem a competitividade da região. Recentemente o Mato Grosso assumiu a Nova Rota do Oeste, concessão federal da BR-163 no trecho que corta o Estado, após repactuação do contrato por meio de homologação no Tribunal de Contas da União (TCU). A via deve receber R$ 9 bilhões em até oito anos. “Isso [a repactuação] sana projetos estressados e gera novos investimentos na região”, diz o advogado Fernando Vernalha, sócio do escritório Vernalha Pereira. A Motiva Pantanal, outro trecho da mesma rodovia, mas no Mato Grosso do Sul, também foi repactuada, com contrato mantido sob gestão da mesma concessionária e que prevê R$ 10 bilhões em investimentos pelos próximos 29 aos nos 845 km da via. "Resolveremos todos os problemas operacionais que existem hoje. Ao término das obras, teremos uma rodovia sem gargalos e muito segura”, diz Nelson Soares Neto, diretor-presidente do braço regional da empresa. O governo federal também estuda concessões simplificadas voltadas a investimentos de recuperação e manutenção, com baixas despesas de capital (capex), uma alternativa aos contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), responsável por mais de 8,5 mil km de estradas na região. “Esse programa vai beneficiar o Centro-Oeste, trazendo investimento privado para manutenção de rodovias hoje dependentes do orçamento público”, acrescenta Vernalha. Segundo o DNIT, a região recebeu, de agosto de 2024 a agosto deste ano, mais de R$ 1,5 bilhão em investimentos federais. Levantamento da autarquia indicou índice acima de 83% de boas condições nas estradas federais.